HISTÓRIA

A ideia da Fundação da Irmandade da Misericórdia de Sorocaba e o hospital foi obra do português Francisco José de Souza, que vindo do Porto, em Sorocaba se casou com Maria Floriana de Madureira, filha do Capitão mor da cidade, Cláudio de Madureira Calheiros.

Francisco José de Souza trabalhou em Portugal na Santa Casa de Misericórdia e vendo em Sorocaba a precariedade e a falta de cuidados para com os doentes da vila fez contato com o Capitão Geral da Província de São Paulo (hoje equivalente a governador), Antonio José de França Horta, para, através da Irmandade da Misericórdia, construir uma Santa Casa.

O dito Capitão não só autorizou como enviou à Câmara de Sorocaba, uma carta comunicando sua aprovação, bem como solicitando o apoio, através do exemplo generoso dos Srs. Representantes do povo, exortando os demais “moradores distintos e abonados”.

Em 29 de julho de 1803, deu-se início ao projeto de fundação da Irmandade da Misericórdia e da construção de um hospital. O objetivo principal das Irmandades da Misericórdia era praticar a misericórdia, sob a proteção de Nossa Senhora das Misericórdias, invocação usada desde 1320 na Itália, para nomear uma irmandade em Florença, cujo objetivo era enterrar os mortos estrangeiros que ficavam nas ruas e não tinham quem os enterrasse. As Santas Casas tinham a finalidade de curar os pobres enfermos e os miseráveis.

Em 29 de setembro de 1803 foi iniciada a arrecadação, tendo o livro sido aberto com a doação do próprio Capitão Geral, no valor de 20$000 (vinte contos de reis), e em seguida com a doação o de Francisco José de Souza de 200$000 (duzentos contos de reis), assumindo vários outros compromissos anuais até que o hospital fosse autossuficiente. Muitas famílias importantes da comunidade, cujos descendentes ainda moram em Sorocaba nos dias atuais, também ajudaram financeiramente na obra.

Foi adquirido um terreno no final da rua em frente à Igreja de Santo Antônio (nada tem a ver com a atual Igreja de Santo Antônio, na Árvore Grande), e que passou a denominar-se “Rua do Hospital”, hoje rua Álvaro Soares, esquina com a “Rua do Comércio”, atualmente rua Souza Pereira. Essa Igreja também passou a ser tratada como Igreja da Misericórdia, pois era lá que a Irmandade se reunia. E em outubro de 1804, foi colocada a pedra fundamental.

  • Em 1804 o lusitano Francisco José de Souza começou a construir o primeiro Hospital da Vila de Sorocaba, através da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, esta criada, em 1803, nos moldes existentes em Portugal.

Em 1807 faleceu o Capitão Francisco José de Souza, fundador e benfeitor do hospital, deixando bens para o hospital em seu testamento, pois até esse momento, este ainda não estava terminado.

Quando as obras foram concluídas, descobriram que não havia pessoal capacitado para atender doentes. A Irmandade foi extinta em 1811 e todo o patrimônio ficou na responsabilidade da Câmara dos vereadores.

De 1811 até 1844 o prédio teve diversas finalidades. Dividiu-se em três casas, que foram alugadas. Uma das casas, durante algum tempo foi mobiliada e serviu para hospedar o juiz de direito, que vinha da comarca de Itu. Durante a revolução de 1842, Serviu de prisão para o Padre Feijó, um dos líderes dessa revolução. O prédio serviu para abrigar escola, hotel e também espécie de quartel das forças militares do Movimento Liberal de 1842, servindo de quartel para as tropas de Caxias, após a invasão de Sorocaba.

Assim, até 1845 não abrigou pacientes, porque não havia profissionais da saúde na Vila. Em 1845, quando Sorocaba já era elevada à condição de Município, tinha como juiz municipal o Dr. Joaquim Pedro Vilaça, que se empenhou para que a Irmandade da Misericórdia fosse restaurada, tendo em vista a carência de cuidados para com os pobres e desvalidos. Foi eleita a primeira diretoria da Irmandade e o próprio juiz, como 1º. Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba.

Reivindicaram a devolução do patrimônio da Irmandade, entregue à Câmara dos Vereadores em 1811 e constatou-se que o hospital, a Igreja e até o Estandarte da Irmandade necessitavam de reparos.

Através de verba concedida pela “Assembleia Provincial” (Assembleia legislativa), puderam restaurar tudo e adquirir 10 camas, medicamentos para o hospital, mesa, cadeiras e bancos para a Igreja. Além disso, contrataram um capelão para atender a Irmandade, o Padre José Manoel da Conceição.

Em 14 de março de 1846, após a reforma, foi inaugurado o hospital da Santa Casa, tendo como médico o Dr. João Henrique Teodoro Landgaard, uma enfermeira, a Rita parteira que era auxiliada pelo Pedro, sendo Inácio José de Almeida, Esperança Paes de Almeida, Maria de Arruda e Maria Pedro os primeiros pacientes a serem internados.

Em março do ano seguinte, Sorocaba recebeu a visita do Imperador D. Pedro II que fez sua contribuição à Irmandade e recebeu o título de ”Protetor da Irmandade”.

Assim o hospital, administrado pela Irmandade, com eleições anuais, renovação do provedor e toda diretoria a cada ano, no dia 08 de dezembro, com doações de cidadãos abonados, doações deixadas em testamentos por almas generosas, arrecadações populares, como as festas, bailes e quermesses, entre autos e baixos de suas diretorias, bons e maus provedores e administradores, manteve-se naquele prédio da rua Álvaro Soares, denominada então, “rua do Hospital” até 31 de dezembro de 1898.

Porém, em 1895 o Hospício dos Alienados de São Paulo estava com o prédio em ruínas. O governo do Estado já estava construindo um novo hospital em Franco da Rocha, o Juquery, mas o hospital não suportava esperar o término da construção. Iniciaram uma procura, no interior do estado, por um local que pudesse servir, transitoriamente, de abrigo aos doentes. Como Sorocaba era considerada um local de boas qualidades climáticas e ar saudável, encontraram uma chácara no alto da estrada de São Paulo – hoje a Avenida São Paulo – de propriedade da viúva Ana Loureiro de Almeida que possuía um casarão, era cercada por muros de taipa e tinha terras férteis. Em 25 de fevereiro de 1896 o Estado comprou por escritura pública, esse imóvel pelo valor de 13:000$000 (treze contos de reis) e adaptou-o para 80 doentes, e em abril desse ano, os doentes foram levados para esse casarão adaptado em Sorocaba, enquanto se aguardava a construção da dependência colonial do asilo-colônia de Juquery. Em maio de 1896, o então diretor médico do Hospício de Alienados em São Paulo, dr Franco da Rocha, foi à Sorocaba instalar a Colônia provisória, onde deixou 80 alienados a cargo de um administrador, sendo realizada uma visita diária por um médico da localidade. Assim funcionou até maio de 1898, quando, terminado o anexo colonial de Juquery, os enfermos foram transportados de Sorocaba para lá, evitando assim a dispersão de pessoal administrativo e maiores despesas.

Em 01 de janeiro de 1899, foi inaugurado o novo prédio, no alto da Estrada que ia para São Paulo, hoje, Avenida São Paulo, no. 750.

Nas fotos, o prédio da Estrada de São Paulo, no início dos anos de 1900.

Entre 1897 e 1900 a febre amarela castigou Sorocaba. Na 1ª fase foram cerca de 40 mortos, enquanto que na 2ª, morreram centenas de pessoas. Em poucos meses, a epidemia dizimou a cidade. As pessoas fugiram para seus sítios, chácaras e para propriedades fora da cidade. Muitos se mudaram de Sorocaba, outros foram para Ipanema, aos pés do morro de Araçoiaba, inclusive, a Câmara Municipal.

Em Sorocaba ficaram os abnegados que se sujeitaram a contaminação, entre eles os médicos Dr. Álvaro Soares, Artur Martins, Manoel José da Fonseca, proprietário da Fábrica Nossa Senhora do Carmo, Monsenhor João Soares, entre outros, este último, que trabalhou incansavelmente, dia e noite, morreu vítima da doença.

Nessa época, desconhecia-se que a causa da contaminação era a picada do mosquito, acreditavam no contágio por contato, então foram montados dois isolamentos fora da cidade, em chácaras da região. Pairava o desespero no ar.

“Os mortos eram empilhados nas carroças do governo e atirados nas valas comuns abertas no cemitério, recobertas por cal antes mesmo que pudessem ser preenchidas as formalidades burocráticas” (Carlos de Campos e Adolfo Frioli em “João de Camargo de Sorocaba”).

Os médicos sanitaristas, Dr. Emilio Ribas e Dr. Fajardo, vieram de São Paulo e ficaram em Sorocaba durante todo o tempo, no combate à moléstia, até esta ser dada por extinta na região.

Durante esse período de final de 1899 a início de 1900, a cidade de Sorocaba parou. Acabou a feira dos muares, fechou comércio, acabou a plantação. Indústria e comércio foram prejudicados. Sorocaba precisou de ajuda. Houve uma grande mobilização no estado todo e foi incalculável a contribuição que chegava a cidade. Havia uma comissão para administrar esses recursos e ao final da epidemia, o que sobrou foi dividido entre algumas entidades, entre elas a Santa Casa.

Sorocaba era carente de um local adequado para o tratamento de tuberculosos, moléstia que se alastrava naquele início de século. Com esses recursos advindos da sobra do combate à febre amarela, foi possível construir na Santa Casa, dois pavilhões, um masculino e um feminino, separados por uma sala de enfermagem. Foram inaugurados, em 23 de fevereiro de 1902, graças à generosidade do empresário José Manuel da Fonseca que mobiliou e equipou os dois pavilhões.

Era o único pavilhão para tuberculosos no estado de São Paulo. Foram construídos sobre “abobadilhas” feitas de tijolos e cimento para não haver umidade de espécie alguma e construídas na altura de 80 centímetros do solo. Cada sala comportava 4 camas.

Na foto abaixo: o prédio hexagonal é a sala de enfermagem, ladeada pelos dois pavilhões, o masculino e o feminino.

Esses Pavilhões construídos em 1901, para o tratamento de tuberculose em regime de isolamento, foram remodelados em 1927. Em outubro de 1906 foi iniciada a construção da maternidade, inaugurada em 1911. Em 1925 a construção dos demais pavilhões completou o conjunto. Na mesma época, instalou-se o aparelho de radiografia Six Sixtty Plus da International X-Ray Co. e seus acessórios.

A Santa Casa acompanhou a evolução dos hospitais incorporando técnicas e modernizando equipamentos e edificações. No último quarto do século XX e nos primeiros anos do atual, profundas alterações foram realizadas com a construção de moderno Conjunto Cirúrgico, Unidade de Tratamento Intensivo, edifícios administrativos e prédio que abriga o Pronto Socorro. Equipamentos de alta complexidade foram instalados, tais como Bomba de Cobalto, Mamografia, Ultrassonografia Específica para Próstata, Instrumental para Neurocirurgia, além de outros. Serviu para Residência Médica nas especialidades de Ortopedia e Traumatologia e treinamento em Enfermagem.

O objetivo de se tornar referência levou a Irmandade à construção de um novo complexo hospitalar ora em andamento, sem detrimento das instalações existentes. Não sendo feita apenas de cal e pedra ela guarda no seu memorial nomes de Empresas, Fundação Rotária, Instituições Sociais, Filantropos, Médicos, Enfermeiras, Religiosas, Funcionários, e quantos mais tenham participado de sua longa caminhada, superior a duzentos anos.