Saúde: um conceito em constante transformação

Muitas interpretações se combinam e se conflitam quando ousamos pensar sobre o que é ser saudável; entretanto, destacam-se duas linhas de reflexão sobre o tema. A primeira delas pensa o indivíduo saudável como sendo aquele com ausência de sintomas específicos;por outro lado, é possível considerar uma visão voltada para a integralidade do sujeito, passando-se assim a considerar um conceito mais amplo e mais complexo do que seja um estado saudável, ou ainda, considerando tambémo coletivo no qual ele está inserido. Ambas as percepções são decorrentes e ganham espaço nas discussões públicas somente no final do século XIX.

Foi necessário um amadurecimento dos estudos anatômicos e epidemiológicos para se concluir que a origem dos desvios de função dos órgãos do corpo humano podem seguir estímulos endógenos, ou seja, de origem interna ao próprio organismo, ou ainda exógenos, quando estimulados pelo meio em que este indivíduo está inserido.

Até o início do século XX não existia um conceito universal solidamente fundamentado sobre o tema. Foi quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduziu o conceito como sendo: “…um estado de completo bem-estar físico, mental e social.” A implicação prática deste novo conceito é que não é mais possível reduzir ao sintoma, a prática clínica de uma abordagem assistencial. É importante ressaltar que este conceito também recebeu críticas por ensejar em si um estado idealizado de plenitude. Porém, a aplicabilidade deste conceito abrange um olhar para a biologia humana, para o ambiente, para o estilo de vida e para a organização dos serviços de saúde.

No Brasil, com o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, são criados os conceitos norteadores dos serviços nacionais de saúde pública, quais sejam: Universalidade, Equidade e Integralidade. Alinhados com o conceito da OMS, estes princípios garantem ao indivíduo uma assistência sob uma nova ótica. Para isto ser possível, é importante que haja uma integração das ações de cuidado, que incluem a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o tratamento, a reabilitação, a atenção psicossocial, e as práticas educacionais aos colaboradores e também aos usuários do sistema.

Esta abordagem pressupõe ainda a articulação das diferentes áreas do saberassistencial. O desafio posto para os nossos dias é o de conseguir agregar diferentes práticas terapêuticas de forma eficaz e não conflitivas, tendo em vista que estes profissionais são formados por um sistema educacional que pouco incentiva um olhar sob o espectro multifatorial do conceito de saúde. Além deste desafio, as dificuldades interpessoais decorrentes da interação entre os profissionais de diferentes áreas, segue sendo campo de superação diária para todos os atuantes na assistência ao paciente.

Entretanto, apesar das dificuldades inerentes ao processo, os comparativos demonstram qualiquantitativamente que ao aplicarmos a abordagem multidisciplinar na assistência, os resultados obtidos sofrem sensível variação, como por exemplo: menor tempo de hospitalização, melhores resultados clínicos, atendimento humanizado, e ainda uma redução das despesas de recursos públicos, uma vez que pacientes assistidos de forma integral apresentam menor probabilidade de retorno ao serviço de saúde.

Santa Casa de Sorocaba, nossa missão é servir com amor.

 

Autor:

Marcos Costa de Oliveira

Psicanalista